CRIME, JULGAMENTO E SENTENÇA




Eu fui testemunha de um julgamento no qual a sentença e o crime em si eram a mesma coisa. 

Antes mesmo do julgamento ser iniciado, a ré já sabia muito bem que seria condenada, e apegada a um terço negro, entrou na sala de julgamento, aos prantos. Em seus olhos havia uma melancolia líquida, que mostrava que sua alma agonizava e ela tremia só de pensar em como sua vida seria após a horrível condenação.

O crime: ela amava. Ela terrivelmente amava, e por isso, foi parar ali, no banco do réu. E o agravante do crime era que ela confessava o seu amor pela vítima. "Eu te amo" era o crime que ela cometia todos os dias, até que fatalmente não pode mais ficar impune por isso.

O júri era composto por sete jurados mal amados que jamais cometeram o crime de amar, portanto, eles foram impiedosos ao tomar a decisão. Já o juiz, também era um criminoso, pois já havia dito clandestinamente "eu te amo" em algumas vezes em sua vida, mas nada pode fazer para ajudar a ré a safar-se daquela terrível sentença que estava por ser  proferida.

E então, após a reunião dos jurados, a sentença foi lavrada: ela teria que conviver com a sua terrível capacidade de amar e sua sensibilidade por tudo o que contém amor, até o último segundo de sua trágica vida, e a pena jamais seria endossada. Devido ao seu bom comportamento, ela pôde continuar integrada à fria sociedade que também a condenava e apedrejava por ela ser uma maldita e eterna amante, assim como Teresa, de Camilo Castelo Branco.

Terminado o julgamento, ela ousou em sorrir, pois ainda que fosse julgada por um sentimento que não podia controlar, ela era toda amor, e se orgulhava secretamente por isso. E então, ela cometeu um crime ainda mais hediondo contra si própria: também passou a amar quem a odiava, e assim, viveu vulnerável para sempre.




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