JUSTIFICATIVA


Se esse Desalinho todo fosse abrigado por uma editora, ganhasse exemplares físicos e eu algum centavo pelo que escrevo, isso seria um prefácio. Mas, não. Isto é uma justificativa, pois sou apenas um indivíduo que tem apenas canetas pretas, papéis, teclado e tela pra drenar toda essa desordem frenética que estupra meus pensamentos. A seguir, cada conto é um estupro cometido pela vida. A vida é a culpada de tudo isso que escrevi. 

Eu tentei fugir, mas não consegui por muito tempo. Tentei apenas ler livros de outras pessoas, tentei apenas ignorar as inspirações, tentei dormir, mas não consegui escapar da força maior que me obrigou a trazer tudo isso à tona. Escrever me privou de viver a vida superficialmente e, apesar de ser minha terapia, às vezes me é doloroso, porque é preciso entrar em combate com as personagens, e nem sempre se está preparado pra isso. Dói dar um fim medíocre e resumir a passagem de uma vida - mesmo que tenha sido somente pela sua mente e pela folha que foi-se usada para escrevê-la - apenas a um discreto ponto final. Mas não é isso o que a vida faz com nós, humanos reais?

Viajar muito pela própria mente tem suas desvantagens, e uma delas é esbarrar em suas próprias criações. Uma inspiração não escrita te persegue até que você a eternize, drene-a para o mundo real. A criatura que deseja viver no mundo do criador. Mas minhas histórias não vieram coloridas suficientemente para serem vendíveis. Eu só teria uma editora se eu tivesse um final feliz. Mas aqui o final não é nada, senão real.

Chamei tudo de Desalinho porque foi assim que eu recebi todos os textos, todos emaranhados e incompletos e foi dolorido alinhá-los e dar sentido ao que não tinha nem o sopro da vida. Se os textos a seguir estiverem confusos ou dignos de serem descartados no lixo, que assim seja. Eu sou apenas as mãos que se permitiram escrever e fixar no papel e num blog os gritos ocultos e silenciosos de pessoas e momentos e visões de uma mente anônima que não sabe se foi competente para alinhar o desalinho, se é que isso é possível.

Se os causos fossem contados assim como os recebi, eles certamente não seriam da esquerda para a direita, de cima pra baixo e justificados, nem sequer teriam o luxo de terem sido ordenados em palavras, nem teriam a sorte de possuir início, meio e fim. Seriam cobra de duas cabeças: uma come a outra e ela morre inutilmente venenosa.

Quero que todo esse Desalinho tenha gosto de café amargo e frio que é pra ninguém apreciar. Exerço um fascínio secreto sobre tudo aquilo que é emaranhado. As linhas retas e belas eu deixo em paz nas mãos dos arquitetos, costureiras e quem mais que tenha caso com estética, padrões e leis. Eu quero esse Desalinho só pra mim.

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