O BRANCO ENCARDIDO DOS AZULEJOS



ora parede, ora cimento
sempre falta cimento
sempre sobra decepção (ou recordação)

quando cola, não demora a vir reforma
há sempre uma reforma
um martelo que estilhaça-me ou estilhaça-te
um martelo que me quebranta-me ou quebranta-te
um martelo que separa-nos

invejo os velhos e irresistíveis azulejos portugueses
flutuam num oceano branco e azul
cimento abundante, harmonia entre parede e porcelana

quando o branco encarde, não demora a vir o alarde
há sempre o mofo dos últimos dias
uma outra mão que laça-te ou laça-me
uma outra mão que rouba-te ou rouba-me
uma mão que separa-nos

e assim segue o processo de reforma
e de tão estilhaçados, os azulejos viram mosaicos
e de tão quebrantadas, as paredes, ex-muralhas, viram ruínas (ou escombros daquilo que foi mas já não é.)

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